23.12.07

Alto motivo
















Não me venha com esse olhar de jipe,
não sou ponte de pau a pique.
e esse sorriso de Oldsmobile?
O velocímetro de meu coração vai a mil!
Essa cor de Cadillac, esse rabo de peixe!
Pare de gingar feito Paris-Dakar,
Venha por favor, me beije!
Não precisa apelar, pra eu te amar
Me dê um amasso feito trator,
pra eu morrer de amor!
De você eu não tiro os olhos,
rápido quero trocar o óleo!
Não me venha com esse choro de Vemaguette
Tenho duas pernas, não tenho rodas de patinete!
Não me venha com essa cara de rádio-patrulha!
Teu estofado não é de couro, vê se não me embrulha!
Pare de andar com a descarga aberta, pra chamar a atenção!
Prefiro ouvir o ronco macio do motor de sua voz, é tão bom
Se for beijar, não me dirija, fico com as pernas bambas,
sou pouca areia pra sua caçamba !


Raul de Barros Jr.

PARA 2008



Para 2008

Mais tempo que pressa,
mais riso que sorriso,
mais delicadeza que sutileza,
saúde que precaução,
intuição que juízo.
Mais abraço que aperto de mão,
mais beijo na boca que abraço,
mais atitude que resignação,
vontade que obrigação ,
generosidade que educação .

Mais verdade que confissão,
parceria que sociedade,
compreensão que entendimento,
diversão que entretenimento.

Mais paixão que ilusão,
mais real que ideal,
amor que compromisso,
muito mais liberdade,
muito mais coragem,
quase nenhum estresse,
mais macho que homem,
muito mais fêmea que mulher
e tanto sim quanto não,

que a felicidade não é fazer o que se deseja
mas não fazer o que não se quer.


Patrícia Evans
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21.12.07


DESTINO
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.................Paulo Roberto Novaes
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Eu sou de todos os lugares,
meus desejos são todos os sonhos que existem.
Não importam as idades, as cores, o sexo.
Eu levo a felicidade a todos os corações,
porque sou filho do vento
e irmão da alegria e do amor.
Sou o fruto da caridade
que aproxima os seres de Deus.
Sou todo carinho, fraternidade, afeto
e mais todas as coisas
que você pode pensar necessitar delas.
Sou único e múltiplo.
Tenho mil asas
que se abrem para sombrear os dias quentes
e que batem para amenizar o calor,
que te protegem contra a chuva.
Enfim, sou virtual, sou humano,
sou a superfície e o fundo –
o centro de todas as coisas.
Quero ser assim, nasci para ser isto –
para guardar todas as afeições em mim
e viver, livre,
dentro de todos os pensamentos de amor.
(Dizem que somos Poetas...)

PRAIA DO LEME
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...................... Paulo Roberto Novaes
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Talvez seja mais ou menos por ali,
quase defronte à Fiorentina.
Em noites como esta, de lua cheia,
onde as ondas lambem os seios nus das pedras
e as deusas preferidas de Baco vêm festejar o amor.
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Talvez seja mais ou menos por ali,
nas areias da Praia do Leme,
em noites de sexta-feira...
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Quando lágrimas de ilusões já não têm sua razão de ser,
e o vinho e magia correm soltos,
como o luar deslizando sobre um de seus ombros,
exposto à maresia.
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Talvez seja mesmo ali,
onde a gente se entrega ao presente,
e cavuca a areia por cavucar.
E que de repente encontra um tesouro que brilha
apenas para nosso olhar,
e que só tem valor para quem sabe
que encontrou um tesouro cavucando as areias do Leme.
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Deve ser por ali,
onde Anjos, quando não eram Anjos,
comemoravam suas alegrias
e despiam-se de suas vestes mais íntimas.
Onde as estrelas flutuavam sobre o mar,
e o mar brincava de ciranda com a lua
e todos os astros...
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Talvez fosse ali,
nas areias do Leme,
quando não havia a estrada e a Fiorentina...
Onde se reuniam sereias,
que contavam suas histórias de homens
pelos oceanos e cantavam estranhas cantigas...
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Ali onde vagueia um fantasma,
ou dois, ou muitos,
talvez de feiticeiras que tenham dançado
naquelas areias o seu sabbat.
Talvez seja mesmo ali,
onde nosso coração inflama numa fogueira
que nunca queima,
mas que aquece nossas esperanças...
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Há a possibilidade de que tenha sido ali
onde um poeta escreveu um poema,
um músico compôs uma canção
e um amante chorou por um amor perdido...
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Na verdade,
é ali onde a gente senta,
deita, canta e rola,
quando bate a solidão,
quando o coração reclama
por um pedacinho do mundo,
ou somente quando a gente quer sair
um pouco e sorrir sobre as areias do Leme.

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.................Para Patrícia Evans

CICLO 2

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.....................Paulo Roberto Novaes
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A minha poesia não saiu de mim:
veio dos teus olhos!
Existem palavras que,
ditas em um dado momento,
encheriam toda uma vida de esperança
e razão de ser.
Por isto eu te escrevo –
porque posso ouvir o canto da sereia!
Que o maravilhoso é o que teus olhos
não querem ver
e teus sentidos captar.
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A vida é uma ilha com um oceano infinito
em torno,
e a única saída é para o alto,
em direção ao sol.
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Meu coração quer encher-se da
Sua benevolência,
seguir-Lhe os passos firmes.
Mas meu coração é construção de palha
que o lobo vem e assopra...
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A tempestade desabou aguaceiro
e rio de imperfeições
correu-me próximo à Alma...
E que Terra haverei de reencontrar?
pois que muitos se vão para quase
nunca mais, talvez –
e há mais fome de ir do que sede de
ficar.
(Vozerio que clama no fogo que se ateou a si).
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E eis que finalmente
o trovão cessou o seu brado, e a hora
é de lá pelas tantas,
e que são tantas as vozes que pedem e
as que pedem compadecidas pelas
vozes que pediram primeiro,
que o fim será um novo começo,
e o cálice sorvido novamente até o
fundo.
Ao ponto em que se enxergue claridade
no vazio do copo,
e não sangue em lugar de vinho.

20.12.07



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A CASA DE ANTÔNIO DE AQUINO
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..........................Paulo Roberto Novaes
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Observando as flores pela estrada,
de várias cores as flores,
rosas, brancas, vermelhas e roxas...
Lembrei-me de uma imagem,
sempre próxima, translúcida,
emoldurada por lírios...
Alvos lírios...
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Mercador de bênçãos de reconforto
e de alegria,
ele apenas as distribui,
sem solicitar favores.
Guia de muitos e
exemplo para todos,
humilde seguidor do Mestre.
Patrono desta Casa abençoada,
que lhe honra o nome,
que reconcilia e harmoniza,
que nos presta singelo socorro,
espiritual e físico...
.
Amigo,
como os verdadeiros amigos,
compreende-nos o estágio evolutivo.
E, de braços dados à assistência ao próximo,
convida-nos à reflexão,
dá-nos a chance do trabalho fraterno
e a oportunidade do estudo que
dignifica a Alma,
nesta Casa que amorosamente comanda
com mãos suaves e tão gentis –
General e Apóstolo do Bem.
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Guerreiro nobre,
venceu a si próprio,
e, leal ao Cristo, segue seu
caminho de luz,
deixando rastros de estrelas
para que o sigamos.
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Antônio, Antônio!
Nome bendito e agradável a nós,
a nossos ouvidos e lábios,
a nossos corações tão machucados!
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Nesta noite,
perante teus olhos mansos
e penetrantes, em uníssono
vimos celebrar a Misericórdia do Pai!
Estende-nos o pulso forte
e eleva-nos acima das lamúrias
do mundo e das
reclamações infundadas,
pois se Jesus é o Caminho,
a Verdade e a Vida,
tu és o atalho que nos conduz
ao berço do Cristo.
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Querida Casa de Antônio de Aquino,
que tu sejas para sempre amada
e lembrada, nos altares
de nossos sentimentos mais sublimes!
Semente lançada sobre a terra fértil
do bairro de Mallet,
que germinou e floresceu em
Planos Maiores da Vida!
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Teus Cavaleiros,
mensageiros de Bondade e de Paz,
nunca se cansam de nos amparar,
nos delírios equivocados e
nas quedas iminentes.
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Antônio de Aquino,
obrigado, amigo,
pelo alento, pelo consolo
e pelo convite que nos permite
participar do teu banquete de Luz,
mesmo que estejamos maltrapilhos
e com a Alma em frangalhos!
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Que o pavio muitas vezes ressequido
da Esperança possa reacender-se em nós,
neste ano que se inicia,
e iluminar novamente nossos
anseios e ânimos,
e os desejos mais sinceros de renovação!
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Que a tolerância possa ser a ação
do momento
e o Amor a única estrada disponível!
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“Que o Amor único de Deus
possa inspirar todas as Almas para o Bem.”

19.12.07

CINCO CONTRA UM


Não importa a ocasião se é diurna ou noturna A turba se masturba! É no bico do peito, brioco ou vulva, a turba se masturba! Sai pra lá moleque com essa mão cabeluda! Tu és da turba que se masturba! Haja vaselina ou creminho pra ruga! A turba se masturba! Não pegou ninguém “nas madruga”? A turba se masturba! É tolice dizer que faz mal, cria verruga! A turba se masturba! Não tá satisfeito de ter feito depois? Cai fora dessa turba! Não há nada como que fazer amor a dois!
Raul de Barros Jr

17.12.07

Espera do Inesperado

(Franklin Cirino)

Espero ansiosamente por ti,
ó, coisa que me fará arrepiar e sorrir.
Espero por ti, coisa boa,
Boa nova,
céu nupcioso, puxavante,
sem riscos ou murmúrios.
Espero por ti,
chuva oportuna,
lua intransigente e
leticiosa como criança
quieta que, subitamente,
sorri.

Espero por ti,
recado de menina bonita,
livro de poesia de presente.

16.12.07

Belezas de Sooretama



Lagoa Juparanã e reserva natural são destaques de Sooretama

Sooretama é um dos municípios com maior riqueza natural do Estado. A reserva natural Vale – mantida pela mineradora Vale do Rio Doce –, e a Lagoa Juparanã são símbolos da exuberância de recursos naturais da cidade, que é rica, também, em fontes hídricas.

O nome Sooretama tem origem na reserva da Vale, localizada na cidade, uma das poucas do Brasil. Sooretama é uma expressão do dialeto Tupy-Guarany que significa “habitat de animais silvestres”.

A reserva florestal ocupa 587,38 quilômetros quadrados, que corresponde a aproximadamente 41% da área territorial do município. Destaque nacional e internacional, a reserva abriga uma grande diversidade de espécies raras da fauna e flora da Mata Atlântica brasileira.

Com localização privilegiada, é ideal para o desenvolvimento de pesquisas e educação ambiental. O Centro de Educação e Divulgação Ambiental, mantido pelo Ibama às margens da BR-101, recebe visitantes diariamente.

Os recursos hídricos também são abundantes no município e a Lagoa Juparanã é um dos maiores bens naturais de Sooretama. O manancial tem sua nascente no município, na altura da vila de pescadores de Comendador Rafael, também conhecida como Patrimônio da Lagoa. A Juparanã é a maior lagoa em volume de água doce do Brasil.

Comendador Rafael também abriga uma das mais belas praias do manancial, que é visitado por visitantes de todo o Espírito Santo e até de outros estados.

Abastecida pelas águas do Rio São José, a Juparanã tem 38 quilômetros de extensão, chegando a sete quilômetros de largura em um de seus trechos. Além de Sooretama, a lagoa também banha os municípios de Linhares e Rio Bananal.

15.12.07

Inevitável Metalinguagem

(Franklin Cirino)

Durante a viagem
eu penetrava com os olhos
a paisagem inquieta
e escrevia sobre o volume abstrato
d'horizonte
versos novos,
versos do novo homem triste que sou
a cada dia.

Naquele momento
eu era um poeta
pensando num outro poeta
e tantando,
sobretudo,
evitar a narcísica metalinguagem.
A poesia tem que ser mais que isso!
Tem que fazer com que formem fila por ela,
tem que aconselhar e
ser alternativa face à tragédia.
A poesia tem que enxugar o sangue,
curar a ferida e
adotar com beijo e proteção.
Pronto: virou metalinguagem.

12.12.07

Raro

(Franklin Cirino)

Não dá para mudar o mundo com poesia.
A poesia nada pode fazer:
É só um papel emoldurado
Na parede.

A poesia não grita para ser ouvida.
É semente para terras raras,
É remédio para poucas chagas,
É tom para poucas vozes.
Fruta que poucos conhecem
e sexo que não se pode comprar.

Não dá para mudar o mundo com poesia,
porque poesia é valsa e bruma
para um mundo que não quer se atrasar.
Poesia é conselho de mãe
e histórias de vovó.

Marlin Azul:
peixe de poucos mares!
Águia e Condor:
aves de poucos ares!

9.12.07

ÁGUA E VENTO


Paulo Roberto Novaes
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.
Senti o mar passar por mim,
em uma brisa fresca de vento.
Vi sua cabeleira verde-azulada
cruzar a esquina e acenei-lhe a mão.
O mar agora vive imerso em mim.
O vento, que o trouxe,
trouxe os rios também.
Sou todo água e vento, todo ar,
todo lamento, toda chiadeira sem fim.
.
Vem, ó criatura amada,
observar de perto
os furacões de água que
cascateiam em meu peito.
Fotografar as ondas eternas de vento,
que escorregam sobre as areias
das praias do meu coração.
Porque o meu amor é instável
e contínuo,
como os rios que correm certos
para os oceanos,
e depois se perdem.
Profundo e intenso,
meu amor é o próprio mar.
.
Águas e ventos armam
planos assim:
sussurrando em minhas artérias e veias.
Ao abrir a boca,
o ambiente a meu redor
enche-se de maresia
e pequenos rodamoinhos de folhas
giram próximos ao chão.
E ao retirar meu sangue,
para doá-lo a meus irmãos,
o vento que a seringa aspira,
e a água, mais o plasma,
causam arrepios na enfermeira,
e ela deseja ser uma sereia
em minha corrente sanguinea.
.
Pode parecer estranho,
mas por onde eu passo,
a chuva cai, cursos de água transbordam,
galhos de árvores balançam
e saias levantam-se.
Sou assim –
sem pressa de ser,
como o vento,
e vivendo o momento
como qualquer água,
parada ou em movimento.
.
Cada ser humano possui
um mar em si,
limitado por sua pele,
que pode estender-se,
violento para destruir,
ou sereno como porto
para acolher.
Somos mares navegando
em terra firme...
.
Na nascente de todo rio,
brota junto a ela um deus-menino,
que zela por seu curso
até o mar.
Seres aquáticos residem em mim.
Oyá, Oxum, Iemanjá,
Iara, Janaína - Odoyá!
.
Conheço as diversas matas,
atravesso cidades,
percorro riachos e corredeiras,
e navego cada oceano que há,
porque sou água e vento –
oásis no meio dos desertos.
.
Meu esperma tem cheiro de
terra úmida e grama molhada.
Quando ejaculo é como um sopro quente
em dias de calor intenso.
Meu sonho maior é fecundar
os solos áridos do sertão.
Perdoem-me aqui os mais pudorosos,
e mesmo as pretendentes e os pretenciosos,
mas meu “artefato” é pequeno demais para
tarefa tão grandiosa.
.
Amigos Poetas
(Para o colega Franklin Cirino),
hei de confessar-vos:
a Arte é senhora da minha Vida
e de tudo aquilo que fui.
Eu não faço arte,
eu não tenho nada.
A Poesia é o que sou.
A Poesia é quem me possui.
.
O céu e o mar azuis
são presentes de Deus
para a alegria e o reconforto
da Alma minha,
constituída de vento e água.
Porque só eu posso vê-los com
os meus olhos.
Ninguém mais.
Não são vossos dedos a indicarem-me
as estrelas que me faz vê-las,
mas a forma como as descreveis.

.
Finda a confissão,
tenho mais insanidades a dizer-vos
sobre o eu ser vento e água.
.
Por vezes, as águas que me habitam
reúnem-se em imenso lago
próximo a meu plexo cardíaco,
tomando-me os pulmões,
do abdômen à laringe.
Rios e seus afluentes
desembocam nele,
que permanece plácido e viril
durante dias.
Águas salgadas e doces,
vivendo em plena harmonia em mim.
É assim mais ou menos, desse jeito assim,
nem pra mais nem pra menos,
apenas é...
.
A minha poesia é feita de mar,
e as palavras são cachoeiras e córregos.
Os pontos são filetes de água recém-nascidos,
e o próprio mar sou eu.
Dos sentimentos, inerentes a cada verso,
surge a luz, que enche de vida tanta
água existente.
Dos conflitos humanos insensatos,
surgem o ar, as tempestades e a loucura-
desejos imaturos de liberdade.
Dos versos disformes,
procedem os trovões e os raios,
que, a cada descarga,
transformam os seres que ali coexistem
E sua natureza renova-se em constante ascensão.
.
Não sei se me faço entender,
eu mesmo nunca entendi o que digo
(se alguém puder, que me explique!).
Uma única verdade sobre tudo isso
não existe.
Talvez existam muitos caminhos,
através dos mares,
estradas que os ventos levam e trazem,
que as águas fazem oscilar,
uma variante infinita de probabilidades,
teóricas, nunca comprovadas.
.
O que me resta então
são trechos fugidios sobre a água
que desce da torneira da pia,
frases dispersas que falam sobre a
ventania desta tarde...
Muita coisa sem senso a ser dita
e ninguém que queira ouvir.
.
Porém o mar, ah! esse sim,
vai estar sempre ali,
para eu cantá-lo, e decretá-lo
amigo incondicional de todos os
Poetas,
juntamente com o vento,
que traduz os idiomas
de que o mar se utiliza.
A lua que brilha sobre ele,
o sol que torna suas águas douradas,
e as estrelas que o fazem parecer um
único firmamento.
.
Nunca fui poeta.
Para ser franco, nem sei do que trata
tal palavra.
O que falo não faz o menor sentido.
A não ser, é claro,
para as águas que me inspiram
e os ventos que me conduzem.
.
Não desejo com isso chegar a lugar algum.
Mas saibam todos os leitores que,
onde houver água e ar,
eu estarei por perto.
Pois, como disse um grande
Poeta:
“perto de muita água, tudo é feliz”.

MEMÓRIA

(Carlos Drummond de Andrade)

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.


Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.


As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.


Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

8.12.07

Poema Escorregadio


(Franklin Cirino)



Não havia caneta e nem papel.
Eu segurei o poema até quando pude.
Só que o poema tem mania de liberdade,
asas marotas,
não se apega a ninguém.
Apenas se apaixona instataneamente e
instantaneamente se vai.

E assim ele se foi de mim.

Agora fico aqui,
como um corno arrependido,
sentindo d'antemão a dor que terei
quando eu lê-lo nu
sobre o leito de outro poeta.

5.12.07

O Choro Sem Lágrima

(Franklin Cirino)


Sinto minh'alma chorar dentro de mim, mas
longe de mim.
(Orgulhosa, não quer que ninguém mais ouça
a sua escuridão e morte).

Me arrasto através dos corredores.
Nos recantos me encharco
de um bálsamo obscuro
que me encolhe o corpo
e me cansa a voz e o sorriso
já exangue.

Saem lindas e sepulcrais músicas
do pranto dessa alma.
Músicas mais lindas que as músicas da vida!
Então eu choro também.
E choro sorrindo:
há que se fazer careta para chorar?
Choro sem lacrimejar:
nem toda a lágrima é pranto-pranto
e nem todo o sorriso é alegria.
Eu choro falando,
eu choro em qualquer tumulto,
choro selado como um sono mórbido.

4.12.07

Jardim Tímido

(Franklin Cirino)

Permita que eu, (em qualquer estação),
entre na folia verânica secreta
que há em seus cabelos.

Se jogue sobre mim
e ofereça essa contínua praia quente,
suave e arredia que há em seu
corpo calado e raro, Rayra.

Vamos pular o carnaval que acontece
entre nossos braços e pernas!
Tampa-me, com seus cabelos,
os sentidos que me conectam
à corriqueira sanidade!

Sorria para mim
com esse sorriso amorenado e cheiroso
que me convalesce e, em troca,
me desencoraja a voltar ao chão austero
e despoético dos dias de semana.
(Não quero voltar às hemomaníacas lâminas
e aos cânceres que cirandam entre
os cimentos maduros de sol).

Seduza-me sem querer.
Basta que, sem propósito,
desfiles desperdiçada e semi-nua
sob o meu teto.
Atire sobre meu rosto diurno e preocupado
as marolas confortáveis
daquela tua praia oculta
e me convide a esquecer as dívidas
nas sombras do jardim marítimo
que há em teu balneário tímido.

2.12.07

O onírico eo delírio

Pensava eu estar dormindo e sonhando depois de uma longa noite etílica.
O onírico e o delírio se alternavam.
Eu sonhava que estava sentado, em uma das estrelas de Alfa Centauro, divagando devagar... Seguindo o movimento do universo no seu caminhar, tentando não delirar. Hoje a luz diurna ilumina vagas memórias. Estou torcendo pelo o onírico, para que o homem não venha o meu sonho quebrar, para que o delírio do homem, não interrompa do universo o caminhar.

Raul de Barros Jr.