27.2.08

Dias de Saudade Antes do Desterro


Vem das entranhas
Esse cheiro macio de saudade!
Porque vou novamente
P’ro lugar da minha mocidade!

Ah! Infância!
Flor já sugada,
Mares já rompidos,
Pó de ouro que o vento tomou...
Irrecuperável tempo vivido.

A inadiável hora densa se achega.
O céu dos nossos olhos se enuvia,
E já a perene Massa Negra
Inibe o Sol que nos luzia.

E de ti, tempo trigueiro e robusto,
Restaram inúteis lembranças,
Só p’ra fazer o velho que há dentro de mim
Chorar como criança.

21.2.08


ADAMS E EVANS
Patrícia Evans


Numa planície branquela
de neve, quimera e gelado,
feito folha de papel A 4 virgem,
incauta, nunca utilizada,
abrem as asas ainda mais alvas,
anjos caídos de lado
— foram pegos na avalanche —
imbecilmente atropelados.

Um sacudiu as penas rindo
do pouso trombado.
Outro, do mesmo modo atrapalhado,
enfiou a mão no gelo almofadado
e buscou da aura um perdido pedaço.

Depois de refeitos, vislumbraram a planície
e decidiram ser perfeito
o gelo — a neve que a cobria;
chamaram Deus que desceu
exilados filho e filha.

Um puxou a tinta
o outro o pincel

Não há mais branco ou neve ou gelo
só restam as quimeras na planície de papel.
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