18.8.07

SINAL DOS TEMPOS
(Patrícia Evans)
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Não mais libido real ou sexo.

(uma androginia lúgubre)

Nem ressaca, sobriedade ou nexo.

Não tinha Estado ou alma,

nem estado d'alma ou calma

e sem mais nada;

chão, céu, breu ou raio fúlgido,

nem côncavo, mundo ou convexo...

nem sequer perplexo,

sequer funesto, aterrador, fúnebre ou funéreo.


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6.8.07

A CHAVE
(Monica Sabino)
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Em algum lugar ele tem a minha chave…

Aquela que abre cada caixinha, cada segredo

Que sabe cada espaço, cada botaõzinho, onde cada coisa encaixa

A chave ficou com ele...

Ele não usa, está esquecida em algum canto, algum bolso

Às vezes ele deve encostar, distraído, as pontas daqueles dedos macios nela

Aqueles que sabem abrir meus caminhos

Pra logo em seguida esquecê-la, ocupado e responsável

Correndo para o próximo compromisso

Enquanto isso, me falta a mão, que chega mansa, dançando

Falta o olhar que é dele e meu ao mesmo tempo

E me olha, com a sabida intenção de que eu não me esqueça

De que quando eu lembrar, lembre daquele momento

Ele tem a chave...

Devolveu livros, músicas, mas não a chave

E me pergunto se um dia vou achá-la enquanto remexo coisas e sorrir

Ou se o pobre destino das chaves esquecidas

É só mesmo ganhar carinho de dedos distraídos

E ter uma esperança besta

De que um dia poderão abrir caixinhas uma outra vez.

5.8.07

JOGO DE AZAR
(Patrícia Evans)


Pensou no resultado por vir
e em quão vã a existência
ao resumir-se ao acaso.
Fosse o esperado
ou não,
amputaria as asas.
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(...)

(Bianca Cardoso)
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Não me apaixono nunca!
A ilusão me sufoca:
me liga, me acorda
e me adormece querendo existir.
E quando me vence,
morro de amores;
até que possa voltar à mim.
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