MalandragemCazuza / Frejat
Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o ônibus da escola sozinha
Cansada com minhas meias três-quartos
Rezando baixo pelos cantos
Por ser uma menina má
Quem sabe o príncipe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar
Bobeira é não viver a realidade
E eu ainda tenho uma tarde inteira
Eu ando nas ruas, eu troco um cheque
Mudo uma planta de lugar
Dirijo meu carro
Tomo o meu pileque
E ainda tenho tempo pra cantar
PENSANDO A LETRA DE CAZUZA
PELOS ALUNOS DO CURSO DE ATUALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE GAMA FILHO
(FIGURAS DE LINGUAGEM - PRFª PATRÍCIA EVANS)
Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o ônibus da escola sozinha
ÔNIBUS DA ESCOLA NÃO É ÔNIBUS PARA A ESCOLA, LOGO, UMA MENINA DA BURGUESIA. SOZINHA - PAIS AUSENTES - A BURGUESIA QUE SÓ TRABALHA E TRABALHA E TRABALHA? A SOLIDÃO DA MENINA NÃO CRIANÇA E AINDA NÃO MULHER? QUE COMEÇA A DESCOBRIR NO REAL DESEJO A "INEXISTÊNCIA" DA DOCE FANTASIA INFANTIL DOS CONTOS DE FADA?
Cansada com minhas meias três-quartos / Rezando baixo pelos cantos / Por ser uma menina má
A CONFIRMAÇÃO QUE A MENINA PERTENCE Á BURGUESIA É A PRESENÇA CLARA DA CULPA INSTITUÍDA PELA IGREJA CATÓLICA - ELA SE ACHA MÁ. PENSA QUE PECA. FICA CLARO QUE SEUS PECADOS SÃO LIGADOS AO DESEJO (CONOTAÇÃO SEXUAL) E NO CASO DE MENINA ADOLESCENTE- À MASTURBAÇÃO - O PECADO ORIGINAL, QUE A FAZ REZAR PELOS CANTOS - CULPA.
Quem sabe o príncipe virou um chato / Que vive dando no meu saco / Quem sabe a vida é não sonhar?
CONFIRMA QUE A MENINA ADOLESCENTE ESTÁ DESCOBRINDO A FARSA DOS CONTOS DE FADA. O REAL É UM SACO. A SOLIDÃO ESTÁ DEFINITIVAMENTE LIGADA À PERDA DA FANTASIA; "QUEM SABE A VIDA É NÃO SONHAR?" ESTE VERSO TAMBÉM É UM QUESTIONAMENTO FILOSÓFICO BUDISTA - O DESEJAR (CONOTAÇÃO ABRANGENTE) É A FONTE DE TODA DOR HUMANA; SONHOS E FANTASIAS SÃO DESEJOS. TALVEZ SEJA MELHOR NÃO DESEJAR.
Eu só peço a Deus / Um pouco de malandragem / Pois sou criança e não conheço a verdade
UMA DAS ESTROFES MAIS TRISTES DE CAZUZA... A MENINA IMPLORA EM DESESPERO QUE DEUS A AJUDE. ELA NÃO TEM MALÍCIA, ESTÁ PERDENDO A INGENUIDADE, SE SENTE CULPADA POR NÃO SE SENTIR PURA, PORQUE AGORA HÁ NELA O DESEJO (CONOTAÇÃO SEXUAL) E NESTE TOTAL DESCONTROLE ELA ESTÁ SOZINHA, NA VERDADE, SOLITÁRIA - A SOLIDÃO QUE SENTIMOS NA DOR, QUE AQUI É CAUSADA BASICAMENTE PELO INÍCIO DA DESCOBERTA, QUE EXISTE UMA REALIDADE QUE IMPOSSIBILITA O CONTO DE FADAS E A SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA POR CAUSA DE SUA PRÓPRIA IGNORÂNCIA, FALTA DE MALÍCIA (MALANDRAGEM) ALIADA À CULPA.
Eu sou poeta e não aprendi a amar
OUTRA VEZ A FANTASIA NO LUGAR DA VIVÊNCIA, A TEORIA EM VEZ DA PRÁTICA, A NÃO CONCRETIZAÇÃO DO AMOR QUE INSTIGA A INSPIRAÇÃO. A GRANDE CONTRADIÇÃO DO POETA - A NECESSIDADE DO POETA DE AMAR SÓ É PASSÍVEL DE SER SANADA QUANDO NA FUGA DA REALIDADE - O AMOR PLATÔNICO (IDEALIZADO, IDEAL) NÃO RESISTE AO DIA A DIA. A MENINA, A NÃO MAIS CRIANÇA E NÃO AINDA MULHER É A DEFINIÇÃO DO POETA, QUE NUNCA AMA REALISTICAMENTE, MAS ROMANTICAMENTE OU LIRICAMENTE ETC. . A REALIDADE NUA E CRUA SEQUER PERMITE O AMOR.
Bobeira é não viver a realidade
A DECISÃO DE NÃO PERDER TEMPO FANTASIANDO, DE NÃO CONTAR MAIS COM AS FADAS, PORQUE AO ENTENDER A REALIDADE DISTANTE DE SUAS FANTASIAS DE CRIANÇA ENTENDE, QUE PRECISA DA "MALANDRAGEM" PARA "SOBREVIVER". É A DECISÃO TOMADA EM PROL DA AUTO DEFESA - EVITAR A DOR QUE O DESEJAR (SONHOS E FANTASIAS) PODEM TRAZER. A REALIDADE NÃO TEM SABOR, É CRUEL, É CHATA, É SEM GRAÇA, MAS HÁ UMA CHANCE DELA PASSAR IMPUNE À VIDA SEM O RISCO DA DOR; VIVER A REALIDADE, OU SEJA, NÃO AMAR O PRÍNCIPE, MAS O SAPO OU SIMPLESMENTE NÃO AMAR. A DESISTÊNCIA DO POETA É ASSUMIR A REALIDADE COMO ALGO REAL.
E eu ainda tenho uma tarde inteira / Eu ando nas ruas, eu troco um cheque / Mudo uma planta de lugar / Dirijo meu carro / Tomo o meu pileque / E ainda tenho tempo pra cantar
A FALTA DE GRAÇA DA REALIDADE SEM A FANTASIA. A MENINA PASSA FRIA E INDIFERENTE PELO DIA, SEM FADAS, DEUS, AMOR E ASSIM SERÁ EM INTERMINÁVEL TÉDIO, ATÉ QUE MUDE DE IDÉIA, ATÉ QUE VOLTE A SONHAR, ATÉ QUE SE TORNE MULHER, ATÉ QUE COMPREENDA, COMO O POETA, QUE A REALIDADE NÃO É NECESSARIAMENTE REAL OU ATÉ A SUA MORTE.
Um comentário:
nossa!!
mas fazer oq c não tem como fugir da triste realidade...
muito obrigado por esse texto gostei muiito..^^
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