30.1.07

PENSANDO POEMAS _ POR PATRÍCIA EVANS

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FONTE GREGA
Carlos Drummond de Andrade, "A Paixão Medida", José Olympio, 1980
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"A vida inteira mijando - lastima a deusa - e nem sobra tempo para viver. Minha linfa de ouro ao sol, inestancável, impede-me o sono, proíbe-me o amor. Não sei abrir as pernas senão para isto. Para isto fui concebida? Para derramar este jacto morno sobre a terra, e nunca me enxugar, e continuar a expeli-lo, branca e mijadoura, fonte, fonte, fonte?A deusa nem suspende veste nem arria calça. É seu destino mijar. Sem remissão, corpo indiferente e exposto, mija nos séculos"
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PENSANDO O POEMA DE DRUMMOND

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1- No que pensamos ao ler a palavra FONTE? O que é uma FONTE? Qual sua função?
2 - No que pensamos ao saber que a fonte é GREGA?
3 - Por que Drummond escolheu "FONTE GREGA" e não apenas FONTE?
4 - É possível que Drummond tenha feito referência à Tragédia Grega em seu poema?
5 - Caso Drummond tenha querido fazer menção à tragédia grega, de que forma ele o fez no poema acima?
6 - É muito claro que "mijar" signifique "jorrar"ao se tratar de uma fonte, mas o que será que a fonte de Drummond "MIJA"?
7 - Sei que a fonte grega é uma deusa. Musas são fontes de inspiração e são de "origem" grega. É possível que o poeta tenha querido dizer que a fonte "mija inspiração" ?
8 - Caso a fonte de Drummond "mije inspiração" em vez de água, o que água e inspiração têm em comum?
9 - Por que a deusa lastima?
10 - Por que a fonte questiona "para isso fui concebida"?
11 - Para Drummond nascemos para cumprir um destino imutável?
12 - É possível que ele tenha querido retratar o papel da mulher na sociedade na época das "fontes gregas" e fazer uma crítica ao fato de pouco ter mudado o papel da mulher atual?
13 - Por que a fonte "mija nos séculos"? Por que está condenada a ser inesgotável?
14 - Quer esta deusa vivenciar o amor e desamor e entretanto está condenada a apenas inspirar esta vivência?
15 - O que aconteceria se a deusa se rebelasse contra seu destino?
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CURIOSIDADES PERTINENTES
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"Em "FONTE GREGA", um Drummond anti-aristotélico faz da sua musa divina e fonte inesgotável de inspiração uma deusa da incontinência urinária; "sem remissão, corpo indiferente e exposto, mija nos séculos". A paródia de um gênero ou de um tema clássico significa quase sempre a superação do tema, o final do gênero. Drummond mantém o estilo que lhe é característico veiculando hesitação através de negações e perguntas, sem descobrir totalmente o "claro enigma": "Para isso fui concebida?", pergunta a musa incontinente não recebendo resposta."
Helmut Siepmann
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Sobre o poema Fonte Grega escreveu o poeta Adam David
"Mijando no séculos" Com prazer Ou com pesar, Sem se satisfazer Seu papel é procriar. A fonte é a vida. A água é pública "pra isso fui concebida!? Servir à república? (puta) Minha linfa é a seiva, Que inesgotável procria No jorro morno da veia Impede o sono a cria. Fonte, fonte, fonte! Mija o desamor..., Indiferente nem esconde, Que só presta favor...
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LINFA
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1Uso: formal. a água, esp. a límpida 2Rubrica: bioquímica. líquido orgânico originado do sangue, composto de proteínas e lipídios, que circula nos vasos linfáticos e transporta glóbulos brancos 3Derivação: por extensão de sentido. qualquer humor aquoso
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A Água é indispensável para a vida, pois é o conteúdo principal das células, além de funcionar como meio de transporte das enzimas e nutrientes pelo organismo. 90% do corpo de um recém nascido é formado por água. Ela participa da proteção do embrião antes do nascimento e continua em inúmeras funções por toda a vida na manutenção da temperatura do corpo, no funcionamento das glândulas, na produção da linfa do sangue e das secreções, na lubrificação das articulações, nos movimentos das vísceras, no emagrecimento, na prevenção do envelhecimento, na recuperação de doenças crônicas, na liberação de toxinas e no bom funcionamento de todos os órgãos.

"Possêidon, Deus do Mar, num ataque de fúria, secou todas as fontes de água da Grécia. Porém, encantado com a formosura de uma jovem sedenta que lhe pedia ajuda, ele mesmo, tocando seu tridente sobre uma rocha, fez nascer dali uma tripla fonte de água cristalina."
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TRAGÉDIA GREGA
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1 - A "Tragédia Grega" , por Nietzsche, por exemplo, é apresentada como a essência do pessimismo, onde se manifesta o gosto pela crueldade, o horror e a incerteza quanto ao destino. O pessimismo não significa para Nietzsche abandono, mas aparece ligado à força, à vida e ao poder.
- A decadência da tragédia grega é justificada pela influência nefasta de Sócrates-Platão que afastaram os homens da vida e os envolveram na teoria, lógica, ciência.
- Duas manifestações da doença do homem pós-Sócrates-Platão: racionalismo e individualismo.
2 - Comumente, entre nós, modernos, a palavra "tragédia" tornou-se uma aplicação costumeira para designar um acontecimento doloroso, catastrófico, acompanhado de muitas vítimas, ou ainda para descrever o desenlace de uma paixão qualquer que redundou num horrível assassinato. Para os gregos, entretanto, tragikós era outra coisa. A tragédia definia acima de tudo uma forma artística, ou algo que somente ocorria entre os grandes. Na visão de Aristóteles, um dos primeiros a estudar o impacto dos espetáculos teatrais, a tragédia seria "uma representação imitadora de uma ação séria, concreta, de certa grandeza, representada, e não narrada, por atores em linguagem elegante, empregando um estilo diferente para cada uma das partes, e que, por meio da compaixão e do horror provoca o desencadeamento liberador de tais afetos."
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A tragédia como catarse
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Aristóteles não preocupou-se em estabelecer qualquer teoria sobre a tragédia nem concentrou-se nos aspectos técnicos do espetáculo mas no comportamento do público. Concluiu que o espetáculo trágico para realizar-se como obra de arte deveria sempre provocar a Katarsis, a catarse, isto é a purgação das emoções dos espectadores. Assistindo as terríveis dilacerações do herói trágico, sensibilizando-se com o horror que a vida dele se tornara, sentindo uma profunda compaixão pelo infausto que o destino reservara ao herói, o público deveria passar por uma espécie de exorcismo coletivo. Atribui-se à concepção de Aristóteles, que associa a tragédia à purgação, ao fato dele ter sido médico, o que teria contribuído para que ele entendesse a encenação dramática como uma espécie de remédio da alma, ajudando as pessoas do auditório a expelirem suas próprias dores e sofrimentos ao assistirem o desenlace.
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MUSA
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De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, trata-se da "fonte de inspiração de um poeta", "génio de um poeta" ou "mulher inspiradora". E como tudo na nossa civilização ocidental, as musas têm a sua origem nos gregos. Não há poema homérico que, na sua introdução, as dispense. Na mitologia, elas são as nove filhas de Zeus e de Mnemose (a memória) e resultam de um ardor amoroso de nove noites consecutivas: Calíope (poesia heróica e oratória), Clio (história), Euterpe (música), Mélpomene (tragédia), Talia (comédia), Terpsícore (dança), Erato (poesia lírica), Polímnia (elegia) e Urânia (astronomia). Estas nove musas protegiam as Artes, as Ciências e as Letras. Curiosamente, a palavra museu designa o templo das musas. E é nele que residem as obras resultantes da sua inspiração.
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Agora que você já leu algumas curiosidades pertinentes ao poema de Drummond, volte às perguntas propostas em "PENSANDO O POEMA DE DRUMMOND" e perceba se suas respostas ou se a sua visão do poema mudou.
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2 comentários:

Anônimo disse...

nao gostei do poema

Patrícia Evans disse...

Não é porque é Carlos Drummond de Andrade, que tem que ser uma unanimidade! Mas, diga-me, vc leu a proposta dessa postagem? Se leu, queria saber se o ajudou a entender o poema melhor, ainda que vc não goste do poema. Também não sou muito fã deste poema, mas era um dos mais difíceis de carlos, por isso foi escolhido. :o)