NEUROLINGÜÍSTICA
Adélia Prado
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Quando ele me disse
ô linda,
pareces uma rainha,
fui ao cúmice do ápice
mas segurei meu desmaio.
Aos sessenta anos de idade,
vinte de casta viuvez,
quero estar bem acordada,
caso ele fale outra vez.
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"O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta."
(Adélia Prado)
Adélia Luzia Prado de Freitas é natural de Divinópolis/MG, nascida em 13/12/1935. Casada desde 1958 com José Assunção de Freitas, funcionário do Banco do Brasil S.A., tem 5 filhos: Eugênio, Rubem, Sarah, Jordano e Ana Beatriz.Adélia diz que: "Uma das mais remotas experiências poéticas que me ocorre é a de uma composição escolar no 3º ano primário, que eu terminava assim: "Olhai os lírios do campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles...".A professora tinha lido este evangelho na hora do catecismo e fiquei atingida na minha alma pela sua beleza. Na primeira oportunidade aproveitei a sentença na composição que foi muito aplaudida, para minha felicidade suplementar. Repetia em casa composições, poesias, era escolhida para recitá-las nos auditórios, coisa que durou até me formar professora primária. Tinha bons ouvintes em casa. Aplaudiam a filha que tinha "muito jeito pra essas coisas". Na adolescência fiz muitos sonetos à Augusto dos Anjos, dando um tom missionário, moralista, com plena aceitação do furor católico que me rodeava. A palavra era poderosa, podia fazer com ela o que eu quisesse."Professora, começou a escrever em 1950, após a morte de sua mãe, Ana Clotilde Corrêa. Em 1973 forma-se em filosofia, um ano após a morte de seu pai, o ferroviário João do Prado Filho.Por essa época, entediada de seu próprio estilo, começa a escrever de forma torrencial, dando veios às influencias literárias recebidas das leituras de Drummond, Guimarães Rosa, Clarisse Lispector.Na opinião de Carlos Drummond de Andrade, "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis".O que mais chama a atenção na literatura produzida por Adélia Prado é a religiosidade embutida e/ou subentendida em seus textos. Ela trata e retrata as coisas do cotidiano com perplexidade, entendimento e pureza.Sua obra é atemporal, moderna, transformando em lúdico a realidade descrita, fazendo com que os fatos mais corriqueiros ganhem uma beleza poética de grande extraordinariedade.Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, cidade com aproximadamente 200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá."Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."Qual a contribuição de Adélia Prado para a literatura brasileira? Para a época em que sua poesia foi divulgada : a revalorização da identidade feminina, como ser pensante e ser maternal. Aqui, o grande valor desta poeta. Ou seja, Adélia conseguiu conciliar a intelectual com a mãe, esposa e dona-de-casa; ela conseguiu o equilíbrio entre o feminismo ( movimento agressivo) com o feminino (natureza intrínseca).Em seus poemas, estão muito bem colocadas as figuras masculinas ( pai, marido, filho), sem observamos sinais de conflito, fato este que não se observa nas poetas mais atuais..