ENTRE A ESPADA E A CRUZ
Paulo Roberto Novaes
Confessarei algo a vós todos,
amigos meus:
Eu nunca mordo
Antes de passar a língua!
Seja o pão ou a carne,
A lua ou as estrelas do mar.
Sim, exponho-me,
Quase que por completo,
Ao mundo inteiro,
Derrapando pelas estradas
Da vida,
Como viaturas que tentam
alcançar seu destino,
Sobre a pista molhada
Pela chuva que cai.
Neste exato momento,
Eu me julgo,
Para logo, condenar-me
No próximo instante.
Ei-me entre a espada e a Cruz.
E como, pergunto eu a vós,
Meus amigos,
Eu que me confesso aqui,
Que me exponho,
Que sou advogado
e juiz de mim mesmo,
Como, eu vos pergunto,
Chegar até a pacata Cruz,
Sem antes lutar nas arenas de
Meu próprio coração humano
E rebelde,
E deixar sangrar-se minh’alma,
Já tão miserável e dorida,
De tantos rancores e dissabores,
De tanto carinho e de tanto amor?
Como cruzar o horizonte,
Para além do oceano e de
Todos os astros,
Sem me desvanecer primeiro,
Sem me apagar e ocultar-me
Entre os espinhos,
E então poder vislumbrar
O Início e a Causa
De todas as coisas?
Meus irmãos e amigos,
Sou presa e predador de todos
Os meus desejos e sonhos.
Sonhos às vezes impossíveis,
Desejos às vezes tão intensos e
Implacáveis.
Sim, eu escolho
A Cruz Redentora,
Mesmo sabendo que,
Entre Ela e eu,
Há um abismo desconhecido
E escuro.
Sim, meus irmãos e amigos,
Eu escolho a espada,
Que me servirá de ponte por sobre
O despenhadeiro da morte,
A fim de poder,
Ao término de tantas guerras
Que visam às rédeas
De minha alma,
Contemplar o Irmão,
Aos pés de Sua Santa Cruz,
E eu de olhos baixos
E marejados de sal,
Dizer “amém”
À vontade do Pai,
E aceitar,
Humilde que nunca fui,
Estar a Seu lado,
Numa quarta cruz.
“Perdoai-me, Pai,
porque talvez eu não saiba
o que escrevo.”
Um comentário:
Uau! Eu que adoro inventar palavras estou me sentindo a menor das criadoras....
MARAVILHOSO!
Postar um comentário