MENDIGO DA POESIA
Paulo Roberto Novaes
Estou sem ar,
Sem chão.
Sem pés
(para poder voar).
Sem teto
(para ser livre).
Surpreso,
Mas nada tão assim.
Estou música
Nas cordas da
Tua harpa.
Estou mudo,
Sentido,
Porém sem mágoas.
Sou menino que se perdeu
Para encontrar-se
Com a encruzilhada.
Sou vento ardendo
Nas choças.
Fogaréu molhando
As roças -
Martírios.
Sou homem sério,
Calejado,
Mas nunca bruto.
Pincelo nas linhas
Móveis –
Psicografia.
Luto.
Cabe a você o saber
Por que.
Visto-me de branco.
Fogo.
E paz.
Perdi a hora do trem.
Encontrei navio
No cais.
Sou pétala rubra,
Caída,
No chão do teu jardim.
Teu não.
Teu sim?
Talvez.
Sou gesso.
Esculpido marfim.
Madeira calada,
Que emudece nunca.
Coloridos borrões,
De guache,
Telas.
Quebrantos, mazelas.
Pranto.
Sou mar.
Da maresia amante.
Água parada,
Da chuva.
Melada.
Doce.
Praias desnudas,
De areia corpo.
Velas.
Flores.
Promessas.
Dezembro.
Fevereiros,
Amores.
Carnaval.
O vinho,
O sangue.
O lodo,
O mangue.
O pântano.
O sol,
O sal.
Sou tudo
O que desejo ser.
Sou magia.
Branca,
Vermelha,
Negra.
O bem e o mal.
Se bobear,
sou Maria,
Com orgulho
e prazer.
Sou giz.
Aniz.
Joelho na escadaria
E matriz.
Fantasma estampado
No breu.
Ateu.
Poeta,
Plebeu.
Teu.
E de mais ninguém.
Clown, mágico,
Trágico.
Esse não sou eu.
Porque não sou.
Alguém.
Amém.
Sou poeira das ruas,
Folhas secas nas praças.
Das V.M.’s da vida,
Prostitutas seminuas.
Sou caca das traças.
Vivo sob baratos calçados,
Sempre enfermo.
Por isso,
vou a todo lado.
O cascalho,
no asfalto quente,
Me fez assim.
Terreno.
Carente.
Sou rio,
De mim afluente.
Além,
Mas logo ali.
Te quero.
Abraços.
Amassos.
Cansaços.
Proezas.
Impetuosa
Musa,
Que abusa
Da gentileza.
Sou toda tua.
Te amo.
Poesia crua.
E ninguém mais.
(Nua).
Perdida,
À toa.
Nos mares do norte,
Da vida.
Na proa.
Agora,
Com tua licença,
Perdoa (a mim),
Que me vou,
Que se foi...
Bailar sobre a rosa
Dos ventos,
Fuçar,
mal cheiroso,
canis de sarnentos.
Que é lá que eu vivo,
Que é lá que eu como
E bebo.
E que busco abrigo,
Das pragas,
Do final dos tempos.
Porque sou eu quem
Esmola o pão,
E recebe na cara
O tapa, o desalento.
Esboçado em tua face,
Um gargalhar,
O frio das madrugadas
E o teu lamento.
(Mas nunca o teu olhar).
Poesia,
Aonde me foste levar?